'Meu pai nunca mais conseguiu se encontrar: a tortura quebra a pessoa'

“O medo que eu senti de ser presa, perseguida, torturada, morta… foi real. Não foi um medinho, foi um pavor.”

Eu não sou uma pessoa com ansiedade, mas tive um gatilho de pânico durante um exame de ressonância magnética. Aquele som, ficar com os braços esticados, sem poder me mexer, me remeteu à tortura. Eu comecei a ter invasões de cenas, de imagens de tortura na minha cabeça, naquela máquina. Saí dali apavorada.
Kenia Soares Maia

A psicóloga hoje faz parte do coletivo Filhos e Netos por Memória, Verdade e Justiça, formado por familiares de mortos, desaparecidos, torturados e perseguidos políticos durante a ditadura militar.

“Ninguém queria saber do meu pai, ninguém queria saber o que aconteceu com ele, o que aconteceu com a minha prima, com a minha tia, com os meus tios. A família carrega esse trauma também. Isso adoece a gente.”

O coletivo é uma forma de as famílias se acolherem, falarem sobre isso e cobrarem seus direitos.

Para Kenia, o filme “Ainda Estou Aqui”, indicado ao Oscar, é um reconhecimento das dores das famílias —mas não pode ser algo momentâneo.

noticia por : UOL

27 de fevereiro de 2025 9:01