'A Procura de Martina' se destaca com brilho da atriz Mercedes Morán

Com “A Procura de Martina” voltamos à saga das mães e avós da Praça de Maio, de Buenos Aires, instituição que se tornou célebre primeiro pela busca infatigável de seus filhos e netos desaparecidos durante a ditadura de Jorge Videla, na Argentina.

Sabemos hoje, inclusive a partir de vários filmes, das perseguições que sofreram e das lutas desde o tempo em que a ditadura as chamava de “as loucas da Praça de Maio”, até verem Videla e cia. devidamente presos.

Martina é mãe de uma jovem morta na prisão, cujo filho foi desviado pela família a casais próximos da ditadura. Isso é o que conhecemos. Mas qual o destino de Ignacio, o neto de Martina? A primeira informação chega, enfim: ele está no Brasil, Rio de Janeiro. Buscá-lo é a tarefa imediata, mas não isenta de problemas, já que Martina também começa a sofrer de Alzheimer.

Logo dá para ver que a estreante Márcia Faria fez uma fina escolha de atriz. Mercedes Morán é uma dessas atrizes que se escondem sob a personagem e permitem que ela, apenas, se manifeste.

Era algo indispensável, pois Martina deve alternar entre a urgência em reencontrar o neto, ou seja, uma grande expressividade (histérica, talvez, mas ainda expressividade), e o simples embaraço por coisas que esquece. Devemos ainda lidar com o vazio que vemos em seus olhos, vazio de um olhar que não significa nada, exceto a ausência.

O sentido de urgência de Martina faz com que ela decida embarcar sozinha para o Brasil. Suas amigas percebem que isso é uma temeridade: viajar com essa doença a outro país de que não conhece a língua, onde pode esquecer o passaporte ou o dinheiro em qualquer lugar, não lembrar, de repente, nem do que está à procura.

Martina não esquece do neto, isso é certo. A partir daí o filme tem a brilhante ideia de mostrar as casas da pequena classe média, as ruas do subúrbio. O mais corrente no cinema brasileiro é dividir-se entre a zona sul e a favela (vulgo comunidade). Entre a bela vida e a vizinhança com o banditismo atroz. Por alguma razão, o subúrbio só costuma entrar se for sede de escola de samba.

A evolução se dá entre altos e baixos, momentos de algum suspense, em que ela acredita que está prestes a encontrar o neto, ou a chegada das amigas, que lhe reprovam a autonomia, seja por não conhecer o povo do país, seus costumes e perigos, seja porque o maior perigo é a própria Martina, com sua mente incerta. Reprovam, é verdade.

Querem fazer o processo direitinho, avisando embaixada, polícia e tudo mais. Mas ao mesmo tempo nunca deixam de lhe dar apoio na aventura. Dessa aventura vai participar também Jessica, papel de Luciana Paes, funcionária do hotel em que Martina está hospedada no Rio.

No fim, uma estreia animadora, com uma produção modesta, mas à qual nada falta. Uma coprodução entre Brasil e Uruguai, até onde dão a entender os créditos, embora traga três atrizes centrais da Argentina —além de Morán, Adriana Aizemberg e Cristina Banegas.

noticia por : UOL

8 de junho de 2025 15:44