Com eleitores mais diversos, próximo conclave deve indicar rumo da Igreja Católica no século 21

A sucessão do papa Francisco abre um capítulo de profundas reflexões sobre o rumo que tomará a Igreja Católica em um mundo em constante transformação. O pontífice argentino deixou uma marca singular: pastor próximo, reformista prudente, defensor dos excluídos e promotor incansável do diálogo. Sua partida não será apenas o fim de um pontificado, mas o início de um novo ciclo para a Igreja Católica, marcado por grandes desafios internos e externos.

O primeiro desafio que a instituição enfrenta é sua própria renovação. Francisco impulsionou uma reforma da Cúria e promoveu uma igreja “em saída”, mais sinodal e menos clerical. Mas as mudanças encontraram resistências internas, especialmente entre setores conservadores que temem uma perda de identidade. A crise dos abusos sexuais, embora enfrentada com maior transparência, continua exigindo justiça e cura. Além disso, o desafio do vazio geracional — com uma notável diminuição de vocações sacerdotais na Europa — urge repensar estruturas e formas de presença pastoral.

A igreja também enfrenta o desafio de manter a unidade na diversidade. As diferenças culturais, teológicas e pastorais entre as igrejas locais —da Alemanha à África, da América Latina à Ásia— requerem uma liderança que escute e harmonize, sem impor uniformidade nem renunciar ao depósito comum da fé.

A Igreja Católica não pode se isolar do contexto global. O mundo atual enfrenta transformações aceleradas: crise ecológica, desigualdades extremas, migrações massivas, guerras persistentes e a revolução tecnológica. Tudo isso levanta questões éticas urgentes. Como acompanhar uma humanidade ferida e fragmentada? O que significa falar de Deus em um mundo pós-moderno e secularizado? Como evangelizar sem cair em proselitismos, mas com a força do testemunho?

Além disso, a revolução digital e a inteligência artificial desafiam a forma como as pessoas se relacionam, buscam sentido e constroem comunidade. A igreja precisa repensar sua linguagem, sua presença nas redes e sua forma de comunicar o Evangelho.

Francisco foi um mensageiro incansável da paz, denunciando a “terceira guerra mundial em pedaços”, promovendo o desarmamento e buscando o diálogo inter-religioso. O próximo papa herdará uma Igreja que deve continuar sendo mediadora de conflitos, defensora dos povos oprimidos e ponte entre culturas. A paz, no entanto, não se limita à ausência de guerra: exige justiça social, respeito aos direitos humanos e compromisso com os mais vulneráveis.

O próximo conclave acontecerá em um contexto global muito diferente do de 2013. Francisco internacionalizou o Colégio Cardinalício, dando voz às igrejas periféricas. Por isso, os papáveis não virão apenas da Europa. Nomes como o filipino Luis Antonio Tagle, atual prefeito de Evangelização, o congolês Fridolin Ambongo, o húngaro Péter Erdő ou o argentino Víctor Manuel Fernández (prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé) surgem com força.

Cada candidato encarna uma visão. Tagle representa uma igreja asiática, em diálogo com outras religiões e próxima aos pobres. Ambongo é uma voz profética na África, continente chave para o crescimento da Igreja Católica. Fernández é um teólogo próximo ao pensamento de Francisco, capaz de dar continuidade pastoral. Também poderiam emergir nomes mais “de consenso”, como o italiano Matteo Zuppi, comprometido com a paz e a inclusão.

África e Ásia serão regiões estratégicas para a Igreja Católica do futuro. Ali crescem as vocações, a fé é vivida com dinamismo, e os desafios sociais são enormes. A América Latina continuará sendo um pulmão espiritual, embora golpeada por crises políticas e perda de fiéis para o pentecostalismo. A Europa, apesar da secularização, continua sendo um espaço chave de reflexão teológica e diálogo cultural.

A sucessão de Francisco será mais que uma eleição: será um sinal sobre que igreja quer ser a Igreja Católica do século 21. Continuará o caminho de abertura e diálogo ou voltará a se fechar sobre si mesma? Será uma igreja global, sinodal, missionária? Só o tempo e o Espírito dirão.

noticia por : UOL

18 de maio de 2025 14:54