Bets, cinismo e burrice

Na criatividade popular o caso Bruno Henrique virou meme e o melhor deles é o em que ele aparece agradecendo à família que “sempre apostou em mim”.

Mas o caso em si não tem graça nenhuma.

E despertou polêmica que revela o cinismo ou a indigência mental daqueles, na mídia, que a pretexto de justificarem suas ações de propaganda das casas de apostas inventam os argumentos mais surreais para defendê-las.

O primeiro deles diz que foram as bets que denunciaram a fraude, como se fossem defensores do jogo limpo.

Ora, até as bolinhas dos cassinos sabem que fiscalizar trapaceiros em seus domínios é mera proteção da banca para não ser roubada, sem que isso diminua em nada o papel deletério causado por ela na saúde pública.

De tão pueril, o argumento dá dó dos neurônios alheios.

Outra ponderação, e esta causa engulhos e vergonha alheia, minimiza o gesto corajoso do técnico Filipe Luís, ao recusar fazer propaganda das bets, e criticá-las publicamente embora seu empregador, o Flamengo, seja patrocinado por uma.

Ora, até a Pedra da Gávea sabe que 100% dos clubes brasileiros da Série A têm patrocínio de bets e condenar o treinador ao desemprego é típico dos que exigem sacrifício com o pescoço alheio.

Há ainda o surrado argumento de que as bets promovem milhares de empregos, como se o tráfico de drogas também não promovesse.

Ou que as bets sustentam os clubes, como se antes delas não houvesse quem sustentasse.

Que cada um fique no seu quadrado, sem tentar justificar o injustificável.

Assuma para si mesmo que precisa das bets para sobreviver, ou para ficar mais rico, algo compreensível no primeiro caso, e desprezível no segundo, sem se desmoralizar com raciocínios que põem em dúvida a qualidade dos Tico e Teco de cada um.

As bets fazem tão mal à lisura do futebol que advogados de Bruno Henrique acusaram a casa de apostas que patrocinava o Atlético Mineiro de ter denunciado o atleta para prejudicar o Flamengo na disputa da decisão da Copa do Brasil entre ambos.

E há quem diga não haver contaminação alguma da jogatina no jogo de futebol.

O Brasil é um país de secular carência educacional.

Nossas elites sempre fizeram questão de privar a maioria dos meios para exercerem plenamente a cidadania.

O resultado é conhecido e tem tudo a ver com as bobagens cometidas por três atletas de nível de seleção brasileira como são Lucas Paquetá, Luiz Henrique e Bruno Henrique.

Repita-se que proibir as bets não resolve o problema, assim como não resolve vetar apostas em cartões, escanteios etc., porque o apostador brasileiro sempre terá a possibilidade de fazer sua fezinha no exterior pela internet.

Há que limitar a propaganda, estimular que as casas de apostas não aceitem certo tipo de apostas, fazer campanhas de esclarecimento para que menos pessoas caiam no conto do vigário do “jogue com moderação”, mostrar que a banca sempre ganha e que o vício do jogo é tão pernicioso como qualquer outro.

Caminhos para mitigar os males da jogatina existem, como os trilhados para combater o tabagismo.

Se tantos, para alimentar a ganância, não fossem aliados das bets na disseminação do vício, os resultados apareceriam mais rapidamente.

E a ganância existe à direita e à esquerda.


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noticia por : UOL

20 de abril de 2025 8:46