Donald Trump passou os 15 minutos mais incômodos do início de seu segundo mandato sentado na primeira fila da Catedral Nacional de Washington. O sermão da reverenda Mariann Edgar Budde, bispa da Diocese Episcopal de Washington, foi a causa da visível contrariedade do presidente.
O culto na Igreja Episcopal Anglicana de Washington, tradição após a posse dos presidentes dos Estados Unidos, raramente gera polêmicas. O apelo final da bispa para que o presidente tenha misericórdia dos imigrantes e da comunidade LGBTQIA+ viralizou nas redes sociais. No entanto, muito antes disso, a prédica de Mariann já havia despertado a fúria de Trump.
A reverenda Budde condenou a normalização da “cultura do desprezo” e o incentivo à polarização promovidos pelas big techs, que ela classificou como um “complexo industrial da indignação” projetado para dividir as pessoas. Esse ponto do sermão confrontava diretamente Trump, cuja trajetória empresarial e política foi construída em grande parte sobre o desprezo a grupos vulneráveis.
O culto na Catedral Nacional é um ato religioso pensado para costurar a unidade do país além das divisões políticas. A reverenda destacou isso, mas frisou que a unidade não pode ser alcançada sem o “fundamento da honestidade tanto nas conversas privadas quanto públicas”.
Ao mencionar a importância da honestidade e responsabilidade como bases da vida nacional, a bispa chamou Trump ao arrependimento, pedindo que abandonasse as mentiras que continua propagando, como as alegações infundadas de fraude na eleição perdida para Joe Biden, histórias falsas sobre imigrantes em Springfield ou a acusação de que países estariam enviando criminosos e doentes mentais para os Estados Unidos.
Durante o sermão, Trump olhou para o alto, como se perguntasse: “Quando isso terminará?” Após o culto, recorreu à sua estratégia habitual de desprezo, afirmando que o evento “não foi nada emocionante” e que a reverenda deveria “fazer um serviço religioso melhor”. Mais tarde, em sua rede social, chamou Mariann de “esquerdista radical” com um “tom nojento, nada convincente ou inteligente”.
A separação entre religião e Estado é uma das grandes contribuições da República dos Estados Unidos ao mundo. Se o presidente pudesse nomear o bispo ou a bispa da Catedral Nacional de Washington, Mariann já estaria demitida. Porém, em um país que não tem religião oficial, mas é profundamente religioso, presidentes precisam começar seus mandatos ouvindo sermões.
Após a posse, em discurso para seus correligionários na Capital One Arena, Trump afirmou que as três palavras mais belas são: Deus, religião e amor. Acrescentou, porém, que sua palavra favorita é “tarifa”.
Não surpreende que sua escolha esteja relacionada ao dinheiro. É igualmente revelador que ele separe Deus e amor pela palavra religião.
Trump veio a este segundo mandato com a intenção de separar e dividir. Não só o mundo, os estadunidenses, os imigrantes e seus filhos, mas também o que é inseparável na fé cristã: “Deus é amor” (1 João 4:16). Ele mentirá, dizendo agir em nome de Deus e da religião, mas será sempre em nome do deus que escolheu: o dinheiro. Como Jesus disse: “Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mateus 6:24). Trump e a reverenda Mariann sabem o Deus que decidiram servir, e o sermão dela deixou isso claro para o mundo.
noticia por : UOL