Medo disfarça sadismo do apoio à barbárie policial contra o outro

Apoiados pelos parlamentares que desejam armar a população, os congressistas religiosos pegam em armas pelo fim do aborto —mesmo que a gravidez seja fruto de um estupro ou que a mãe corra risco de morrer. E endossam qualquer iniciativa a favor da proliferação das armas. Luta-se pela vida em gestação e, simultaneamente, despreza-se a vida já existente. Tudo isso num país em que são vergonhosas as condições da saúde, educação, transportes e… segurança pública.

Não faz muito tempo, o ator Wagner Moura foi aplaudido nas salas de cinema ao encenar no filme Tropa de Elite o capitão Nascimento, personificação da brutalidade policial. Aplaudiu-se a glamourização da tortura. Sem remorsos ou dúvidas ético-existenciais. Era como se a violência fosse o seu próprio pretexto. E o brasileiro diante da tela, vibrando de mãos limpas, barbarizando sem sair da poltrona.

Aos pouquinhos, a brutalidade filmada na vida real foi assumindo configurações inéditas. A PM de São Paulo, por exemplo, foi pilhada intimidando velório de criança, jogando trabalhador da ponte, executante ladrão de sabão pelas costas, assassinando estudante de medicina desarmado, agredindo idosa…

Quem não é policial nem bandido costumava considerar-se imune à barbárie. Apoiava a truculência, desde que fosse contra o outro. Mas a proliferação de agressões e mortes provocadas por intervenções policiais expôs o risco que qualquer um corre. Daí o medo crescente e a sensação de que não convém conversar com um policial, a menos que seja em legítima defesa. O pedaço decente das polícias deveria reagir contra a brutalidade policial.

noticia por : UOL

22 de janeiro de 2025 18:58